Tássia Magalhães retoma a cozinha italiana com toques autorais em fine dining.

Inaugurado em maio de 2021 na Ferreira de Araújo, uma das ruas mais gastronômicas de São Paulo, o Nelita figura com um dos indicados pelo Guia Michelin e ocupa a 26ª colocação do Latin America’s 50 Best Restaurants 2024. Com apenas um ano de casa, Tássia Magalhães foi eleita Chef do Ano pela revista Prazeres da Mesa e esse ano recebeu o prêmio New Talent Award 2024 da La Liste.

Natural de Guaratinguetá/SP, a chef de 34 anos se formou no Hotel Escola Senac Campos do Jordão, trabalhou no italiano Pomodori além de estagiar em estrelados restaurantes da Dinamarca como Geranium e Kadeau. Tássia comanda também a doceria Mag Market e o delivery de massas Unno Masseria.

 

 

O menu degustação em 11 tempos (R$590) é um passeio pelo cardápio à la carte, pequenas porções para apreciar 60% das maravilhas da chef, no melhor lugar do restaurante – o balcão frente ao time de cozinheiras mulheres em ação.

A experiência fica completa com a harmonização de nove vinhos por R$490 mais uma dose do limoncello da casa, imperdível. Sommelier e sócio, Danyel Steinle selecionou rótulos brasileiros das vinícolas Guatambu, Era dos Ventos, Casa Tés e internacionais como um Encruzado do Dão, Pecorino de Abruzzo, Albariño do Uruguai e um Auslese, vinho alemão beneficiado pela podridão nobre.

 

Começamos pelo Guatambu Nature Blanc de Blanc 2020, 100% Chardonnay, sendo que 25% do vinho base passa brevemente por barril de carvalho, um espumante com bastante fruta e cremosidade.

Nas opções “Para comer com as mãos”, encontramos porções de quatro unidades de deliciosos e belíssimos snacks.

Um deles tem forma de flor, sendo o miolo feito de tomates fermentados e as pétalas de coalha de búfala de Pindamonhangaba, finalizados com gel de tomate amarelo e baunilha (R$72).

Ao ser mordida, a madeleine de milho revela um creme de cogumelo e gel de maçã (R$78).

Conhecido como sonho no Brasil, o beignet em versão salgada é recheado de queijo de cabra para ser saboreado com caviar (R$150).

Meu preferido foi o arancini de cebola defumada com arroz crocante, gel de romã e pétalas de flores comestíveis (R$76), bem cremoso por dentro.

Eduardo Zenker é um dos pioneiros em vinificação natural no Brasil. Autodidata, elabora vinhos em pequenos lotes desde 1999 em sua vinícola Arte da Vinha. Apenas 780 garrafas foram produzidas do vinho laranja Under My Skin 2022, 100% Sauvignon Blanc de maceração com uvas de parceiros de Monte Alegre, no Rio Grande do Sul. O vinho macera 10 dias com peles (skin contact) e adquire complexidade sem deixar o frescor de lado.

Os vegetais brilham nas entradas, a exemplo da beterraba em creme que serve de base para os picles de rabanete e beterraba em forma de flor, finalizados com iogurte, azeite de menta e folhas frescas de poejo (R$72).

No Vale da Grama, divisa entre Minas Gerais e São Paulo, foi iniciado em 2017 o projeto de viticultura do sommelier Danyel Steinle ao lado do empresário Pedro Testa, que conta com a consultoria informal do amigo enólogo francês Pierre Lurton, responsável pelos châteaux Cheval Blanc e D’Yquem. São sete hectares de videiras das variedades Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc e o Semillon em meio a matas nativas preservadas, com muitas minas de água e animais silvestres. O Grama Sauvignon Blanc 2022 teve uma produção limitada colhido em apenas 0,5 hectare passou por barricas e manteve o frescor com as características notas herbáceas dos vinhos do sudeste brasileiro.

Mais um elegante creme, agora de abobrinha decora a mini abobrinha marinada e braseada, finalizada com beurre blanc (R$88).

Encantei-me pelo vinho biodinâmico Julia Kemper Encruzado 2020, um branco que passa por madeira, bem estruturado com aromas de fruta madura e fresco em boca. Encruzado é uma das mais prestigiadas castas brancas de Portugal, especialmente na região do Dão, onde atinge seu auge de qualidade.

Grelhadas apenas de um lado para não perder textura as robustas vieiras com uma lasca de pupunha repousam sob beurre blanc, alho poró em crispy e purê (R$136).

Outro precursor da vinificação natural brasileira, Luís Henrique Zanini, à frente da vinícola Era dos Ventos, faz rótulos excepcionais. O Clarete Era dos Ventos 2022 é um blend de uvas tintas e brancas não reveladas, colhidas de vinhedos próprios, em fermentação espontânea dentro de antigas mastelas de carvalho. Taninos macios e frutas vermelhas exalam da taça.

Deliciosa a berinjela defumada que entra no recheio do cappelli, regado a um maravilhoso brodo translúcido (R$92).

Na região de Abruzzo, a variedade de uva branca Pecorino prosperou por séculos. O vinho Cepheus Pecorino Abruzzo Superiore DOP da vinícola Antica Tenuta Pietramore é elaborado com uvas de solo de giz colhidas tardiamente na província de Chieti, de forma a obter uma concentração mais forte e expressar todas as suas características típicas. Intenso e persistente no nariz com notas minerais, além de pêssego e melão.

Das massas, preparadas diariamente na casa, o linguini é envolvido por suco de cenoura e alho poró, purê de cenoura, ovas de truta do Vale do Paraíba e crocante de pão (R$145).

O Albariño de Maldonado da Compañía Uruguaya de Vinos de Mar apresenta deliciosas nunces oxidativas e salinas além de frutas secas no paladar. Fermenta a partir de leveduras aborígenes e estagia por 6 meses em foudres ovais de carvalho. Liderada enologicamente por Michelini i Mufatto, a empresa se concentra em vinhos de microunidades de terroir especialmente selecionadas.

Texturas de mandioca representadas pelo aligot, picles e telha de tapioca com algas acompanham a pescada amarela ao velouté (R$172), pura elegância.

Já o Casa Tés Blend 2022 tem o frescor da Cabernet Franc e sedosidade do Merlot com boa fruta vermelha madura na taça. Devido a pequena produção, os dois rótulos produzidos pela Casa Tés inicialmente têm sido uma exclusividade de restaurantes brasileiros e clientes, cadastrados em lista de alocação.

O suíno se apresenta em três maneiras no prato – terrine de pernil, barriga de porco e demi glace – com purê de pão tostado e mini cubinhos de pera no balsâmico branco (R$170).

Ortega Auslese 2019 da vinícola alemã Weingut Ludwig Wagner & Sohn é um vinho de sobremesa com dulçor elegante que mostra notas de pera e mel. Auslese é uma das classificações dos vinhos alemães de qualidade, elaborado a partir de cachos muito maduros, selecionados à mão, em algumas ocasiões até com uvas botritizadas.

Harmoniza muito bem com a choux que serve de base para o creme de manga e picles de melão (R$37)

ou a versão de bolo molhado de coco com abacaxi tostado e merengue de coco fresco (R$39).

Termine a noite com uma dose do espetacular limoncello do Nelita, feito na casa, o melhor que já provei.

Tassia, eu e Lorena.

Um brinde

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Nelita na minha coluna de gastronomia do Cidade Conecta.

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Nelita

Rua Ferreira de Araújo, 330 – Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil

nelitarestaurante.com.br