A saudade de confrarias, cursos, eventos e degustações só aumenta nesses tempos de isolamento social e, diante da falta que isso faz para o apreciador da boa gastronomia, há uma luz no fim do túnel. Renato Quintino leva até a sua casa um menu degustação de cinco etapas harmonizadas que seguem um tema diferente a cada semana.

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O jantar é conduzido com explicações sobre o preparo das comidas e orientações a respeito das bebidas escolhidas para a noite. No mesmo dia, Renato prepara os pratos e faz o delivery por volta do horário do almoço, tudo muito bem embalado, higienizado e organizado. O encontro acontece pelo “Zoom” e às 19:00hs os participantes recebem o link para acessar a Aula/Degustação Virtual.

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As duas primeiras edições foram com tapas no estilo espanhol e garrafinhas de 187ml de vinhos. Depois o tema foi em torno dos vinhos portugueses e na sequência uma homenagem à Itália, mas precisamente ao Piemonte, ao tratar sobre a uva nebbiolo e as trufas em um “jantar de um vinho só”, assim como há a música “samba de uma nota só”. Nesse dia o Langhe Nebbiolo D.O.C Cascina Chicco harmonizou do princípio ao fim com pratos que levam produtos trufados como tartufata, mel trufado, azeite e manteiga trufados.

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Na semana passada, a cachaçaria Lamparina entrou em cena com seus coquetéis a base de cachaças locais de pequenos produtores. O cardápio desenvolvido para harmonizar é claro que teve que girar em torno da comida brasileira. O show teve início com o Rabo de Galo, um clássico brasileiro versátil por ser usado tanto para abrir como para fechar refeições, e assim fizemos.

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Abriu alas com o ceviche de coco verde e manga e fechou com o gâteau de pamonha – o coco verde tem textura de lula e nos leva a crer que o ceviche é feito com frutos do mar! Frescor no primeiro prato assim como na primeira golada do coquetel com água tônica.

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Na Lamparina o Rabo de Galo é feito com a Melicana, produzida em Bom Despacho/MG por um dos pioneiros a usar dornas de Castanheira para armazenar cachaça.

Provamos também cachaças envelhecidas em amburana e jequitibá rosa, apelidadas de Lenda Mineira, Vargem Grande e Jambruna, essa última infusionada em flores de jambu, que causa salivação e dormência na boca, uma deliciosa sensação de “formigamento”.

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O coquetel Toró Bravo foi desenvolvido recentemente pelo bartender Albert Coelho, que inclusive estava ao vivo conosco para esclarecer todas as dúvidas. É feito com licor de baru produzido por ele mesmo e entrega uma estrutura leitosa que logo levou o Renato a pensar em sua brandade de siri para acompanhar, já que apresenta certa cremosidade dada pelo creme de leite fresco.

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Saboreamos na sequência uma moqueca de camarão feita no estilo baiano com leite de coco, farofa de dendê e purê de banana. A pimenta dedo de moça que veio no prato como decoração eu comi quase inteira, para combinar com o Marvadeza, apimentado também com xarope de pimenta e gengibre. Devo ter alguma descendência baiana, sou chegada numa pimenta.

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O quarto prato foi um Baião de Dois, receita do Norte de Minas feita com a dupla arroz e feijão acrescida de carne seca, abóbora e queijo coalho, que na versão do Renato foi chamada de Baião de Muitos, já que quiabo e abobrinha enriqueceram a gama de sabores. O coquetel escolhido nessa etapa foi o Carma Nevo, por ser feito com licor de pequi além da cachaça Jambruna. E por quê? Porque pequi e carne de sol tem tudo a ver, é um terroir clássico, além do jambu. A harmonização pode ser feita por afinidade ou por oposição, e Renato explica que gosta muito da afinidade para definir critérios ao harmonizar.

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Depois que acabou o jantar, o Dalmo Pereira, um dos alunos, passou a mão no seu violão e tocou para todos em uma “live particular”. Músicas de primeira!

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O próximo jantar (07/05) terá o tema “Rosé é a Cor Mais Quente”, dos vinhos rosados quase brancos aos rosados quase tintos e as nuanças da harmonização. Já no dia 14/05 a sétima edição desse projeto terá o tema “Vinhos e Pratos Leves e Fortificados”. No sábado dia 16/05 entram em cena os músicos Philip Hansen (Violoncelo), Ana Zivkovic e Roberta Arruda (Violinos) e Mikhail Bugaev (viola), que são destaques na Filarmonica de MG e tocarão online algumas peças e ficarão em todo o jantar para conversarmos sobre música. Os preços variam entre R$190 a R$280 e as inscrições podem ser feitas por telefone/WhatsApp (31)98876-1331 ou via Instagram @renatoquintinogastronomia.

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Essa rica experiência repleta de conhecimento tem que perdurar além da quarentena, é o que os alunos que experimentam desejam. Muito obrigada por um dos melhores divertimentos dessa quarentena, Renato!

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Na minha coluna de gastronomia do Jornal da Cidade BH:

http://degustatividade.com.br//wp-content/uploads/2015/07/200_Jantar-on-Line-Harmonizado-Renato-Quintino.pdf