Carmelo Patti inaugurou em Mendoza a moda dos “vinhos de garagem”, um grande enólogo da velha guarda de vinificação com o mínimo de intervenção possível. Seus vinhos não têm aditivos químicos, apenas pequenas doses de sulfitos, passam por fermentação em cimento e envelhecimento em carvalho velho de até sexto uso. A clarificação é feita com clara de ovo e bentonita. Depois de engarrafados, descansam no galpão por no mínimo 5 anos. Todo processo de rotulagem é feito manualmente e ele mesmo verifica integridade da rolha uma a uma. Segundo ele não temos o hábito de guardar garrafas e ele só admite que o vinho seja tomado quando realmente estiver pronto para consumo.
Nasceu na Sicília e já com 1 ano de idade foi para a Argentina. Desde criança tem contato com o mundo do vinho, por conta da influência de seu pai. Estudou enologia na Escuela Miguel Amado Pouget e começou a trabalhar como enólogo aos 19 anos (1971). Depois de 40 anos de experiência investiu em seu projeto pessoal, ao inaugurar seus vinhos naturais em 1989.
A bodega de Luján de Cuyo foi fundada em 1998 e é quase que somente lá que seus vinhos podem ser apreciados e adquiridos, já que ele não exporta sua produção. As videiras estão plantadas em uma fazenda de doze hectares em Perdriel e outra de três hectares em Mayor Drummond, bem perto da bodega. Quem cuida da plantação é um amigo engenheiro agrônomo que trabalha com ele há mais de 30 anos.
Estive em Mendoza em 2018 e já sabia da fama do Sr.Carmelo Patti, e mesmo assim fiquei impressionada desde o primeiro gole que coloquei na boca. Foi algo extremamente diferente de tudo que eu já havia provado, perfeitamente equilibrado, um veludo na boca. Cheguei lá já querendo levar ao menos uma garrafa e ele me disse: prove antes de comprar. Resultado: não resisti e trouxe uma vertical de Cabernet Sauvignon safras 2006, 2007, 2009 e 2010. A visita não é cobrada, mas é absolutamente impossível sair de lá sem uma garrafa na mão.
Ele mesmo que faz tudo por lá: recebe os visitantes, explica sobre os vinhos, faz um tour em sua garagem, serve as taças, atende o telefone, vende os vinhos e ainda pilota o trator para certificar que as caixas sejam posicionadas com cuidado.
A bodega é um galpão rústico sem luxos, sem glamour, sem tecnologia, sem modernidades e nem mesmo placa de identificação tem na porta. Não há divulgação, não precisa de agendamento e ao chegar lá o Sr.Carmelo Patti vai te receber com toda a simpatia, como se fosse um velho amigo chegando em sua casa.
Pelas palavras do mestre Gerson Lopes,
“Vertical inédita de um dos vinhos argentinos que considero como um dos melhores do país. O Cabernet Sauvignon de Carmelo Patti.
Garrafas de minha amiga Léa Araújo que as trouxe quando esteve em Mendoza em 2018. E os presentes puderam perceber as preciosidades que são estes Cabernet Sauvignon safras 2006, 2007, 2009 e 2010. Daria 93-95 pontos à todos eles, mas o que mais me chamou a atenção foi o 2007, talvez mais pronto que os dois mais “novos”.
Como forma de tentar retribuir o convite para participar desse momento mágico, levei um dos mais expressivos CS do Tio Sam, o Hidden Hidge 55% Slope 2013. Um bebê ainda, maravilhoso e com a tipicidade dos CS do Napa Valley. Pesadão, porém equilibrado. Bem diferente dos argentinos provados que me agradam mais. Parker deu 97+, pois afinal estávamos diante um vinho bem “parkeirizado”. Com “arroz de pato” preparado pela Dina na Rex Bibendi o casamento foi perfeito.
No final para lavar um pouco os taninos e trazer frescor ao paladar provamos um delicioso borbulha brasileiro – Pianegonda Espumante Sur Lie 36 meses – biodinâmico, e mescla de 60% Chardonnay e 40% Pinot Noir. Mostrou um frescor incrível, boa cremosidade, e ao nariz encantava com suas frutas cítricas, junto com fermento e brioche em consequência ao bom tempo de autólise (36 meses).”
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Agradeço a Dulce por nos receber na Rex em uma noite inesquecível com os amigos Zé Inácio, Márcia, Nelson, Gerson e claro, meu sommelier preferido, Croquete.
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Bodega Carmelo Patti
instagram.com/bodegacarmelopatti