Cozinha caipira requintada, feita por uma moça que não tem grandes títulos gastronômicos nem coleciona passagem restaurantes comandados por famosos, mas tem alma, capricho, dedicação e amor. A comida da Mariana Gontijo criada especialmente para o seu novo restaurante, O Tacho, é uma das maiores representações da alta gastronomia mineira em sua essência.  O menu é baseado em insumos selecionados por uma pesquisa minuciosa da chef pelo Cerrado e as receitas são genuínas, fiéis a nossa terra. Dá orgulho de ver como ela foi capaz de elevar o simples a um patamar sofisticado na apresentação e na complexidade de sabores.

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O sobrado, de dois andares, pode receber até 35 comensais em mesas compartilhadas e fica na pacata Rua Patrocínio, no bairro Carlos Prates. Objetos e móveis antigos, inclusive do acervo de família da Mariana, decoram os ambientes da casa. É possível fazer uma reserva para jantar com seu grupo numa sala privativa.

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De cara a primeira entrada do menu já desperta curiosidade. O “Ritual do Frango” (R$37) consiste em raspa de angu crocante que envolve o patê de fígado com galinha e dá apoio para comer com as mãos. Nessa mesma bocada vai junto um chutney de cagaita, conserva de jiló e uma folhinha de coentro, que vão em cima não só para decorar, mas para completar a inteligente combinação de sabores. Como se não bastasse, vem uma canequinha com caldo de galinha caipira no prato. Poderia vir um balde que eu tomava tudo.

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A segunda entrada é também muito interessante, com o uso da beldroega fresca e em um caldo frio. É uma plantinha com folhinhas redondas e suculentas, classificada como PANC, mas bem conhecida dos quintais das avós mineiras. O caldo feito com beldroega e hortelã tempera bolinhas de porco caipira cobertas por redanho, gordura que rodeia intestino, fígado e rins do porco no formato de um véu. O chips de banana dá a crocância e o creme verve de pequi com inhame é no ponto, suave e equilibrado, posicionados em cima das cinco pelotas de porco (R$38).

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Correndo o olho pelos pratos principais fui direto no Galopé (R$56). Bem raro encontrar um restaurante de alta cozinha mineira que serve pé de porco recheado com galo. O extremo colágeno presente nessa comida me apetece bastante e a Mariana usou molho de tamarindo, broto de abóbora, refogado de mamão verde e mandioca para compor essa maravilha mineira. A apresentação é meio impactante porque vem o pé inteiro, desde a unha até a canela e eu cai de boca e deixei o osso limpo.

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Para uma pegada mais leve, o peixe do rio do dia (R$60), chamado de Ribeirinho acompanha farofa de buriti, conserva de maxixe, azeite mineiro e purê de abóbora assada no borralho, aquelas cinzas quentes que ficam no fogão de lenha depois de apagado o fogo.

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O refogado de frango caipira (R$58) é feito de canjica branca cremosa com coco, farofa de baru e trevinho azedos. Eu comi muito desse matinho na infância enquanto brincava na terra.

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Avalio um bom cozinheiro mineiro pela galinhada e a da Mariana está definitivamente aprovada, com arroz de pilão de Januária, galinha d´Angola, conserva de açafrão da terra, baroa palha, salada de rúcula selvagem e molho de laranja. Aquele arroz molhadinho e completamente integrado ao molho e temperos do preparo! A opção de carne de boi (R$72) é curada, servida com farofa de andu e ovo, inhame assado com azeite mineiro e vinagrete de maxixe.

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Já a baunilha do Cerrado é a estrela da pavlova (R$28) servida com sorvete e calda – ambos de baunilha -, uma das sobremesas que mais me chamaram a atenção. Ela acompanha bolinhas de pitaya branca e vermelha que enfeitam e dão leveza ao prato.

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“Rozdôce” não poderia faltar, já que é a cara de Minas e nessa versão a chef salpica castanhas de caju e de pequi cristalizadas junto com uma farofa de coco queimado (R$22).

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O cardápio esbanja mineiridade por toda a parte inclusive nos vinhos, 100% mineiros! Rótulos dos produtores Luiz Porto, Maria Maria, Primeira Estrada e Casa Geraldo variam de R$46 a R$128. As cervejas são da cervejaria mineira  Verace e as cachaças também são da nossa terra, servidas em doses e nos drinks.

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Não é a toa que Belo Horizonte foi aclamada com o título de Cidade Criativa da Gastronomia pela UNESCO!

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Sucesso, Mari!

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O Tacho na minha coluna de gastronomia do Jornal da Cidade BH:

http://degustatividade.com.br//wp-content/uploads/2015/07/191_O-Tacho1.pdf

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O Tacho

R. Patrocínio, 1, Carlos Prates, Belo Horizonte, MG, Brasil

instagram.com/otachobh